terça-feira, 5 de outubro de 2010

 

BUDDY

Hoje seriam 17. Já foste há quase tanto tempo quanto o tempo que passámos juntos. Estás tão presente, ainda. (Vais estar sempre, sei disso.)

Há dois dias fui ver um filme e esse foi toda a saudade que te tenho. Era a dor de te ter perdido e a alegria imensa em te recordar inteiro. Perto. Único. Verdadeiro. Vibrante.

Pedir-te foi o acto de egoísmo da menina mimada que não entendia o que estava prestes a fazer-te. Querias companhia. Nós que nos queixamos tanto da solidão, impomos aos animais a(s) mais dura(s) pena(s). Incontáveis horas esperando por nós, ainda assim agradecidos. Meigos. Amorosos.

É óbvio que não te queria mal. Queria apenas um ser para amar e que me amasse. E assim te tive. Quando os meus pais cederam aos rogos da filha melancólica. Havia dois na ninhada que me diziam "sou eu". Um ganiu. O outro (tu) adormeceu-me no colo. Como no filme, (não) resta (qu)a(lquer) dúvida se te encontrei, se me escolheste e os 9 anos que pude viver-te foram o mais puro amor que até então experienciei.

Contarei ao T. histórias de ti. Como ocultar-lhe esta tão grande parte de mim?

Era uma vez um cãozinho maroto que se pelava por um petisco, quando o via mordia os lábios lateralmente, entortava a cabeça e punha um ar alucinado. Ríamos muito com o focinho dele e faziamos-lhe a vontade enquanto ele abanava o rabinho satisfeito. Muitas vezes ao passear fazia-se surdo para fazer o que bem entendia. Era um cão com personalidade forte. Muito reguila. A Deia chamava-lhe meu puto e olhar para ele, de tão bom, às vezes, até doía. Corria atrás de pedras como quem persegue obstinado um sonho. Saltos e saltinhos por entre a erva altaneira. Era destemido no mar mas não gostava nem um bocadinho da banheira. Gostava de esparguete cru e sabonete, dos restos de carapau, de pão sem nada, de lamber os frascos de iogurte, de arroz de miúdos e ração normal. Era um cão de boca santa e as 19h eram impreterivelmente a hora da janta. Este cãozinho preto tinha muito para nos dar e era o melhor companheiro que qualquer menino ou menina poderia desejar. Deia cresceu com ele e com ele muito aprendeu. Amou-o incondicionalmente e nunca, nunca, nunca o esqueceu. Mesmo não o podendo ver por muitos, muitos anos, enquanto Deia viveu, recordou a sua foquinha e o amor desmedido pelo seu piturrinho jamais esmoreceu.

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