quarta-feira, 9 de novembro de 2011

 

O ESTRANGEIRO – Albert Camus - by me na GERAÇÃO-C olaré


Retorno aos clássicos com “O Estrangeiro” de Albert Camus (1913-1960. Nobel da Literatura em 1957). Afigura-se história simples: Morre a mãe de Mersault e este cumpre a função de ir ao velório e ao funeral. Não chora. Namora com Maria porque a deseja. Trabalha num escritório, para ganhar um ordenado. Tem um amigo, Raimundo, que se envolveu em quezília com o irmão de uma amante que espancou. Almoça no Celeste. Trivial. Indiferente ante as escolhas do quotidiano que, segundo ele, jamais fazem a diferença, dado que todos mortos um dia. Numa tarde de Verão dispara cinco tiros que se revelam fatais para outro homem, porque se desnorteia com o calor.

Será julgado. Testemunhamos o esgotante desenrolar do processo de acusação. Constatamos que, para os acusadores, o crime maior não terá sido assassinar um homem. Foi não carpir a mãe.

Acaba-se-lhe quem o trouxe para a vida e nem uma lágrima, um soluço, um tremor? Sinal nenhum de desconsolo? De facto, como o próprio esclarece, estaria com demasiado sono para viver, em condições, a perda. As necessidades fisiológicas impõem-se-lhe amiúde ao bom senso e aos deveres sociais. Há muito que nada diziam um ao outro, motivo bastante para que lhe não doesse tanto a despedida. Preferiria, note-se, que tivesse continuado viva, todavia, a culpa do falecimento não fora sua. No dia seguinte à descida de sete palmos da ascendente vai até à praia, namorisca com Maria e termina a noite no cinema, com uma comédia do Fernandel. Insensível, ou tão-só fiel a si mesmo?

Dir-se-á de alguém que diz o que pensa e sente que é honesto. Sincero. Confiável. E se as razões e sentires dessa pessoa chocam os outros? Agridem, até? Se vão contra tudo o que lhes incutem desde o ventre? Então desejarão que se cale (nós também), de preferência para sempre. Eis o que sucede ao anti-herói desta obra-prima de 89 páginas. Será sentenciado por se expor em demasia, ao não omitir certos pormenores do que lhe vai dentro. É descritivo até às entranhas e nunca censório. Não há floreados no discurso de Mersault, ou hipocrisia e é isso que o trama quando, ironicamente, se manteve calado a maior parte da existência, por considerar não ter o que de relevante dizer.

Culpado de não chorar, de assumir as urgências e os não-sentimentos. Culpado de não ser, nem agir, como os demais. Estrangeiro em terra de mentirosos. Ninguém aguenta a verdade inteira, como não se tolera olhar directamente para o sol. Foi a inteireza que condenou Mersault e é nessa que renascerá.

A um instante da execução crê recomeçar. Nesse momento de expiração, mais do que o amem, deseja com fervor que o odeiem profunda e exultantemente. Somente bizarro, ou derradeiro grito de liberdade?

195 BPM – A adquirir. Um livro para reler a vida toda. Cito o advogado de defesa: «Eis aqui a imagem deste processo: tudo é verdade e nada é verdade.»

Publicação original AQUI.

Etiquetas: , , , ,


Comments:
Um dos meus livros preferidos! adoro as tuas criticas literárias,bem escritas, factuais, sinceras e com um travozinho de paixão :)
 
empresta à menina. emprestas? emprestas?

(se as tuas palavras não convencerem a leitura do livro é porque estão todos mortos por dentro. Estou viva portanto.) :)
 
Van: OBRIGADA! Fico muito, muito, muito feliz que assim seja! muitos bjinhos

Bzuu: COMPANHEIRONA! OBRIGADA! Ódespois levo-to. ;) bjinhos bons
 
Enviar um comentário



<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?

Website Counter
Free Counter