sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

 

POR ESTE MUNDO ACIMA - PATRÍCIA REIS



“Por este mundo acima” (Dom Quixote) de Patrícia Reis (1970) apresentou-ma como uma das minhas escritoras de ora em diante. Se me concedessem somente uma palavra, para definir este colosso de Romance elegeria: ESPERANÇA. Quando me desconsolo com o mundo e com a Humanidade penso, amiúde, que não há remédio. Somos incapazes de retroceder na insânia e caminhamos para a extinção às nossas próprias mãos. Arrastaremos connosco as coisas belas que nos precederam. Desmesurada injustiça. Nesses momentos afigura-se-me como solução plausível uma catástrofe de contornos globais, que permita a Deus, à Natureza, ou ao Homem, recomeçar. (Tentar) Fazer melhor.

Eis a premissa pressentida nesta narrativa. Um acidente indefinido devastou Lisboa. - O planeta? - Eduardo sobrevive. Fora editor conceituado e sobranceiro. Homem das letras e pela cultura. Sofia, Lourenço e Jaime os seus amigos. Três existências fortíssimas a dar-nos nós na garganta. Quatro mosqueteiros antes do “acidente”. Depois o caos, a treva e Eduardo abandonado, desprovido das referências de outrora. Todavia, a sobrevivência é bicho traiçoeiro que se impõe, ainda que a desistência menos árdua e dolorosa. Aquele homem continua vivendo. Inicialmente imitando-se no pré-desastre. Depois, concebendo a impossibilidade de persistir imutável, apre(e)ndendo nova forma de ser, de estar, de se dar aos outros.

Encontra Pedro. Menino amadurecido à força, que vira morrer sua mãe e que se lança a Eduardo, bóia e náufrago em simultâneo. Crescerão juntos. Pedro faz-se homem, Eduardo também. Há no primeiro a intuição crua e certeira que em si coexistem o bem e o mal, sabendo-se capaz de ambos com semelhante aptidão. Por respeito ao amigo que o adoptou e cria, oculta-lhe a tendência para a maldade. O tesouro de ambos é a biblioteca da avó de Eduardo, a qual enriquecem através de expedições, por entre os destroços, para encontrar novos livros e onde este descortina muitas das respostas a dar ao rapaz em construção.

Mais sobreviventes se lhes juntam. Organizam-se. São solidários. Eduardo renascido é pessoa inspiradora para os demais, pelo seu sentido de ética, pela escolha consciente das melhores acções. Quando lhe pareceu que era o fim e nada haveria a fazer, senão aguardar a morte, reinventou-se. Recuperou momentos e afazeres. - Como analisar uma obra-prima ignorada há anos na escrivaninha. - Aprendeu a ver na escuridão.

Termino com a mãe de Pedro (Pág.195): “Procura alguém que saiba mais do que tu. Não te limites a receber. Aprende a dar. A reciprocidade é essencial.”

195 BPM – Um lema de vida. Cura a desesperança e ajuda a crer que mesmo na mais absoluta devastação, podemos intuir trilho.

Publicação original AQUI.

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