Fecho os olhos: Estamos na paragem do autocarro, aquele do «ou entras ou migas!». Eu histérica à procura do passe dentro da bolsa de rebordo preto, tu calmo ignorando o desvario dizendo “procura, está aí de certeza.”. Vejo a casa de Santo Amaro, aquela ao lado da casa das “Velhas” da série portuguesa que imitava a americana e lembro-me com uma nitidez avassaladora do sítio onde a Maggie nos ladrava e da piscina à beira da qual conheci a Step. Minúscula, patinhas levantando alternadamente para me pisar os dedos das mãos. Toco o postal com a mosca colada a fita-cola, repleto de nódoas de gordura carinhosamente plantadas e do super-herói, figurinha de plástico a desempenhar um qualquer papel no insano presente de aniversário. Recordo as dezenas de missivas para aquele jornal de notícias fantásticas (24?) dirigidas à Querida Júlia (?) – PDI que me rouba detalhes. – e a que ainda me grita é a do gajo com um machado cravado na tola posando para nós. Corri qual Julie Andrews pelos descampados perto da linha do comboio enquanto filmavas alucinado, comemos bolos enqueijados que a Teresa fazia na casa da Bzuu, “bateste a(s) bota(s)” depois de gravares o epitáfio enquanto te seguíamos incrédulas e lembro as gargalhadas que éramos quando nos juntávamos. As aulas: Todos de costas para a Tunishom, ou de bata, sugestão tua, líder pelo riso e companheirismo, mais do que pela imposição. Pastéis de bacalhau enterrados nos vasos ao invés de sementes; phones nos ouvidos no lugar das inequações; calduços da Professora Anabela. Lembro-me do dia primeiro das aulas que seriam nossas. A Bzuu ia com a sua camisola de crochet com franjinhas, sei lá porque decorei o pormenor, tu não sei como ias mas sei que pensei: “Ah coitado tão sério.” Podemos enganar-nos redondamente, é certo que o faremos, só pela(s) aparência(s). Tenho nas costas as marcas da roseira para a qual ainda hoje juras (cabrão!) que não me empurraste, dizes que me atirei como se pudesse ser assim tão desequilibrada. Desequilibrada eu? Sabe ao termo que inventaste para as minhas choradeiras Ramonianas: “Estás outra vez com alergia?”. Era alergia pois era… Sei bem é que chegava ao pé de ti a angústia esfumava-se e era só sorriso outra vez. Veio a faculdade e assistimos às chamadas de Amilcar Alhinho e José Tolas para o exame. Falámos, não raras vezes, das mamas da Joana que eram brutais. A Joana sempre te deu a volta à mona. E era tão mazinha a gaja, como é possível? Não és perfeito, bem sei. Fui contigo até ao CRASPEM, algumas vezes. À MANIF do 15 de Outubro. A Mil Fontes enfardar como uma lontra. Jogámos o jogo do copo, dormi no chão a teu lado, borrada de medo, essa noite. Roubaste-me o colchão que transportei sozinha para o lugar, à custa do mau feitio. Gritei “Ó Hugo esta merda está cheia de bichos!” Quando puseste em prática a peregrina ideia de me colocar uma sogra de verga (a sogra, não a verga) debaixo da almofada. Acampámos com ornitólogos e as peidonas (eu e bzuu) não se levantaram para observar os pássaros, objectivo da missão. E tu não te zangaste. Raramente te zangas. És tão boa pessoa, pá. Sei onde estava quando me ligaste a dizer que a Alice tinha morrido. Doeu-me como se tivesse sido a Isabel. E chorei cada uma das mortes da Maggie, da Step, do Sul, como chorei a do Buddy. Presentes a surpresa e a alegria quando soube que encontraras o Amor. Amparaste-me inúmeras vezes. Houve muitas em que não morri porque te tinha na vida. Sabes-me de cor. Creio que te sei de cor, também. Adoro-te Hugo. Acho que não te digo vezes suficientes. És uma grande, grande parte do que sou. Parabéns meu AMIGO.
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# Ideia partilhada por Andreia Azevedo Moreira @ 00:07