segunda-feira, 2 de julho de 2012

 

ORLANDO - Uma Biografia - Virginia Woolf - Na Geração C

Sendo certo que uma vida não será suficiente para ler todos os bons livros é uma felicidade não passar ao lado de uma obra como Orlando (1928). A uma boa amiga, que mo ofereceu, o devo. Quando o terminei voltei ao início e nova narrativa se me revelou. Está vivo, metamorfoseia-se, pulsa Literatura e Génio. Nunca outrora a sensação do texto estar a ser escrito só para mim, enquanto o lia, foi tão intensa.
Virgínia Woolf (1882-1941) brincou comigo com mestria. Pegou-me pela mão, nos ombros a capa da sua voz literária única, acompanhando-me em jornada com princípio no século XVI e término no XX, como se fora possível (E é.) alguém viver mais de trezentos anos e ter somente trinta e seis.
Eis a biografia de uma personagem singular: Alguém que nasce homem para se descobrir mulher, trinta anos mais tarde. Corpo de um género, alma de outro, ou o contrário? Ambos os géneros e almas num ente só?
A autora auxilia-nos: «(…) uma biografia é tida por completa se evocar uns meros seis ou sete eus, quando cada pessoa pode chegar a ter muitos milhares.» (Pág. 188)
Urgência perniciosa, essa de definir as pessoas. Definição soa a castração, controlo, discriminação e Orlando recusa qualquer forma de obediência. O amor: Alguém sabe, deveras, de que é feito? De onde vem? Para onde vai quando morre? Ele/a ama veemente: uma mulher (Sasha); um homem (Shelmerdine); os seus cães (Pippin, a spaniel, por exemplo.); a solidão; a literatura (Vários escritores dilectos são referidos.); a escrita (O Carvalho, o seu poema em perene des/construção que atravessará consigo vários séculos.); a natureza.
  
Foi «menino travesso pontapeando cabeças decepadas; embaixador; soldado; cigana; rapariga apaixonada pela vida; padroeira das letras» (Pág. 188), digladiando-se consigo para não se permitir qualquer perda de tempo a parecer. Se é mulher e foi homem pouco importa. É escritor(a). Poeta. Sê-lo-á independentemente das circunstâncias, dos críticos, das roupas que enverga, das existências díspares que experimenta. Vive em função da poesia, indagando a prosa, certa que essa conversa privada nada tem que ver com a glória, nem com os que a admiram, uma vez alcançado o sucesso; ou admirou até à idolatria, quando ainda caminhava ao seu encontro, despida do reconhecimento alheio.
«Pois não era o escrever poesia uma transacção secreta, uma voz respondendo a outra voz? (…) Haveria coisa mais secreta, pensou, mais lenta, mais semelhante ao comércio dos amantes, que a resposta balbuciante que ao longo de todos esses anos fora dando à velha canção sussurrada dos bosques, das quintas, dos cavalos castanhos parados junto ao portão, pescoço contra pescoço (…)» (Pág. 197)
Trata-se de teia sublimemente urdida pela autora em que História, Filosofia, Sexualidade, Literatura, Romance, Verdade(s), Iniquidade(s), Paixão, Amor e Vida(s) se entrecruzam aprisionando-nos de modo indelével.
195 BPM – A melhor Literatura é intemporal. Orlando é de ontem, de hoje e de muitos amanhãs, enquanto houver livros e pessoas para os lerem. Adquirir. Sugerir a leitura a todos os amigos.

Publicação original AQUI.

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