quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

 
O ALA escreveu-me um poema. Poderá não estar ciente disso, todavia garanto: escreveu-mo. Encontrei-o no entremeio do que vocês chamam livro e eu chamo poema (ainda) maior.

(Ó ALA não me processe por isto pá que sou pobre em ouro e isto foi culpa sua, por escrever a falar-me tanto...)

E vai de maneiras que se chama assim o poema que ALA escreveu para mim:

Despeitada por o mundo continuar sem ela

And it goes like this:

Escutava os passos do meu pai na sala de jantar a detestá-lo por me desarrumar o passado.

- E se não fui eu?
Nunca vi uma pessoa a ocupar tão pouco espaço como ele nessa tarde

(quase tudo se passa em silêncio na vida, mesmo os gritos)

- Não lhe notas uma diferença nos olhos?

o cancro que afirmava não ter
- Não estou doente
que até ao último dia afirmou não ter num terror que dava impressão,
numa certeza que dobrava a impressão
- Estou melhor

máscaras que se tornam pele

um soslaio inesperado, você até ao último dia a procurar entender
- Porque me olhou assim?

ponha a carta no correio mesmo sem nome nem endereço,
há milagres, pessoas que voltam depois de amanhã,
para a semana, um dia e resta a esperança que ajuda
e uma vozinha no interior de nós a cantar

compro um buraco longe onde não saibam quem sou
e meto-me lá dentro até ao fim dos meus dias
a iluminar o escuro com a raiva dos olhos

- Amanhã é tão longe

(Houve Natais antigamente)

- Para que prestas tu?

gosto e não gosto de si
(como se põe isto por escrito?)

(não imaginava que houvesse tanto sofrimento no êxtase, que estar no céu fosse um incómodo assim)

as metades de um brinquedo quebrado
que por mais que insista não se juntam nunca

falecemos com a morte dos outros

o abandono de certas coisas aflige-me

passarei de criança a decrépito sem ter crescido nunca

todos gritamos em vão dado que ninguém acode

não esmoreças, não divagues, não tentes escapar com artifícios vulgares

só é aleijado quem quer

de quem herdei este desacerto com o mundo

que vidas as pessoas têm meu Deus, o que os sorrisos escondem

há ocasiões em que a gente, pensando-se felizes, se distrai de nós mesmos

há alturas em que uma pessoa se acha esquisita sem dar por isso
ou então sente um incómodo sem importância nem lágrimas
embora não distante delas

nasci esquisita desculpa

Trechos retirados de: "Que cavalos são aqueles que fazem sombra no mar." o qual recomendo vivamente. A pessoa começa a ler, sente a cadência das ondas (que é como quem diz das palavras) e já não consegue sair sem se afogar. É uma morte doce como quem nasce de novo.

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