sexta-feira, 23 de julho de 2010
INSTANTÂNEOS - III
Atravessou-se-lhe numa passadeira.
(Ignorando-a atropelada no interior da viatura tão perto imobilizada.)
Era ele e não era.
(Despido do seu desleixo habitual.)
Também ela era e não era.
(Já muito distante do que um dia fora nele. Demasiado cheia de impossibilidades.)
(Ele também. Mas isso ela não sabia.)
A obsessão, contudo, ainda a assolava, qual doença insidiosa.
Alimentava-se-lhe das entranhas.
Como um cancro.
Maligno?
Benigno?
(Pouco importa. Cancro: Agente de destruição lenta e silenciosa. Diz o dicionário que não consultou.)
Ia bonito ele.
Ao almoço, empurrou a angústia da garganta deglutindo o seu prato predilecto: caldeirada de peixe.
(Ia tão bonito.)
(Ele.)
Etiquetas: ENAMORAMENTOS, ESCRITA, HISTÓRIAS, INSTANTÂNEOS
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