quinta-feira, 27 de março de 2008

 

Dia Mundial do Teatro e O Tempo das Giestas

Hoje é dia mundial do teatro, uma arte que eu amo há muito tempo. Que acompanho o mais que posso mas não tanto quanto gostaria. Hoje lembrei-me da primeira peça que fui ver. Era o musical "Annie". Uma miúda ruiva e sardenta de grandes caracóis cantava: Amanhã! Amanhã! Lá lá lá. E a história abraçou-me e levou-me para o palco e até hoje recordo o cenário, a protagonista, relembro a existência da directora má e sinto ainda o quanto gostei de pela primeira vez ir ao teatro. Não sei quantos anos teria... Talvez cinco? Não sei mesmo. Outra coisa que recordo com MUITA saudade são as pancadas de Moliere. Alguém me diz/explica porque acabaram com elas? Davam uma mística tão boa ao espectáculo! Preparavam-nos para a solenidade do momento! Tenho mesmo muita pena de já não as ouvir hoje em dia... (Daria assim tanto trabalho?) Se me elucidarem agradeço.

Acabei de ler o livro "O TEMPO DAS GIESTAS", este livro emocionou-me muito. É uma bonita, comovente e romântica história de amor, mas é também um relato vivido e impressionante dos tempos que já se viveram no nosso país. É aterrador o que se passou. Impressiona-me muito a capacidade que o homem tem para a maldade. Porque, um regime, não se faz só de um líder. Faz-se de pessoas dispostas a segui-lo, a obedecer-lhe, a fazer o que ele diz. Se todos se recusassem à tortura, à intimidação, à perseguição, a vontade de um só morreria aí, apenas pela vontade... Impressionam-me muito estes relatos escabrosos, dos requintes de malvadez que existem na nossa espécie em situações extremas. Impressionam-me bastante os monstros que se disfarçam de gente e se revelam em tempos conturbados. Eu já disse aqui várias vezes. Eu não tenho cor política. Eu não creio nos políticos. Eu não creio no poder. O poder, o dinheiro, corrompem as pessoas. Ainda não vi quem me provasse o contrário. Mas, há que dar a mão à palmatória, os presos políticos, passaram por tormentos, por torturas, por humilhações, por dores, por sofrimentos, inimagináveis e de dimensão inalcansável para nós que não vivemos esses tempos. Não imagino as cicatrizes lá dentro, tão fundas, tão grandes, tão dolorosas, ainda... As pessoas que ajudaram a combater a ditadura, as pessoas que resistiram, fizeram muito por nós. Fizeram muito por mim, que posso hoje aqui dizer que não creio em ninguém. Que posso aqui dizer que as pessoas se corrompem. E posso dormir descansada, sem medo que amanhã me venham buscar para ir para um campo de concentração (o Tarrafal era, sem dúvida, um campo de concentração) para me deixarem morrer (para me matarem cobardemente e de forma cruel, desumana!) APENAS porque penso de maneira diferente. Para mim é muito importante a LIBERDADE. A liberdade de expressão, a liberdade de pensamento, a liberdade de poder optar. Mas tenho noção que não é algo que tenhamos garantido. A história repete-se. Sempre ouvi dizer isto. A história repete-se... E hoje, quando sei que posso ser prejudicada por emitir certas opiniões em determinados sítios (pareço o outro, o pai do Carlos Miguel que fala fala fala e ele não o vê a fazer nada) há algo no meu íntimo que se aperta e fica preocupado. É por isso que é importante estudar o nosso passado. O passado não apenas do nosso país, mas o passado do Homem. O passado dos países. É importante não esquecer tudo o que já se viveu. Como se chegou até lá. Fingir que nada se passou é meio caminho andado para que se volte tudo a repetir. Somos todos responsáveis pelo nosso futuro. Aqui fica um magnífico testemunho ficcionado, mas que foi realidade para muitos portugueses nos anos 30 (o livro passa-se entre 1936 e os anos 80...). Este é um livro a não perder! Comovedor!

Acabo com palavras improvisadas do Eddie Vedder num dos concertos dos Pearl Jam:

(...)
It's ok
You don't have to run and hide away
We'll see better days...
This is our chance
This is our lives
This is our planet we're standing on
Use your choice
Use your voice
You can save our tomorrow's now!
This is our plea
this is our need
(...)

Percebem porque é que eu gosto tanto deles?
ELES PREOCUPAM-SE!

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