Estou pela primeira vez nestas andanças dos "blogues"... Resolvi fazer um em homenagem ao meu companheiro de 9 anos, o meu filhote, de quem tenho muitas saudades! Entretanto aproveito e vou pondo cá ideias que me passem pela cabeça! (16Set.2005)
quarta-feira, 30 de maio de 2012
WE NEED TO TALK ABOUT KEVIN
Há pessoas que nascem anjo(s), outras demónio(s). A maioria nasce apenas pessoa, com um pouco de ambos. Nem todos os "Kevin" matam, contudo, dominam melhor que outrem a arte de massacrar. Agressões há que não deixam vestígio(s) de sangue e se revelam, todavia, indeléveis. É duríssimo Amar (incondicionalmente) um Kevin. Desisti há muito. Nos sonhos creio. Nas preces que são minhas guardo o lugar dele, almejando-lhe o melhor. Longe. (Muito longe de mim.)
«Soubeste amá-lo Fernanda?»
«Conseguiste amá-lo Francisco?»
«Não aprendi a fazê-lo. Tentei muito. Tudo. Parei chegada ao meu próprio abismo.»
# Ideia partilhada por Andreia Azevedo Moreira @ 14:19 0 Outras ideias
quinta-feira, 24 de maio de 2012
No meu peito não cabem pássaros – Nuno Camarneiro - Na Geração C
A relação que estabeleci com este livro foi de
estranheza. Conhecia o blogue
do escritor (Nuno Camarneiro, 1977) no qual era amiúde arrebatada pela sua
escrita. A expectativa em relação a prosa de maior fôlego era imensa, pelo que me
quedei desconcertada quando não fui impelida, de imediato, para o(s) enredo(s).
Curioso? Agora que me preparo para vos falar dele, percebo quão fortes as
impressões que me deixou e como algumas imagens ainda me assombram, como se
lidas há um instante.
Em 1910 incendiou-se o céu à passagem de dois
cometas pela Terra, convencendo a maioria do fim. À data três homens existiam
em cidades distintas, alheios ao pânico. Buenos Aires, Lisboa e Nova Iorque.
Jorge, Fernando e Karl, murmúrios de Borges, Pessoa e Kafka. Narrativas díspares
de tom poético a perpassar cinco momentos: exórdio, confronto, acerto, assombro
e fecho.
Karl é imigrante e lava vidros num arranha-céus.
Haverão de se aproveitar da(s) sua(s) carência(s) convencendo-o, por um dólar,
a ser cobaia numa experiência que corre mal. Assim lhe roubam o domínio sobre
um braço. Tremores constantes custar-lhe-ão o posto de trabalho. Morrerá de
amores por Celestina, mulher que conhece num estabelecimento de satisfazer
desejos, gerido por Thomas que o acolhe para saldar para com ele dívida, após o
incidente que o deixou desempregado.
Fernando apresenta-se-nos enquanto atravessa o
Atlântico com destino à casa de uma tia, com quem viverá algum tempo. Escreve
febrilmente o mundo e a si mesmo. Alimentará paixão fantasma por uma mulher que
lhe rouba a escrita e a liberdade, depois de a ter resgatado às águas do Tejo.
Jorge é ainda menino quando se nos revela, criança
de imaginação prodigiosa especialista em inventar universos onde se possa
perder e crescer em jogo perene. Escreverá o destino de Roberto, um colega de
escola, para exorcizar o quanto sofreu com as suas impiedosas brincadeiras. Conceberá,
anos mais tarde, que pode alterar o rumo da realidade.
Desafio-vos a perceberem cada um deles nas
seguintes citações e a abraçarem esta obra de uma prometedora voz da literatura
portuguesa recente: «Afinal escrever era trazer o mundo na algibeira.» (Pág.
42); «É um homem descontente sem ideias para felicidades.» (Pág. 150); «Os
homens duplicam-se a cada cruzamento, os homens são assim. (Pág. 179).
Repleto de bonitas metáforas, arrisco-me a dizer
que neste romance todas as frases são sublimes.
«Quem nunca quis dormir até a vida ser um lugar
praticável, quem não conhece o desconsolo de vestir cada dia uma pele curta nas
mangas (…)» (Pág. 164)
110 BPM –
Adquirir. Os nossos autores precisam do apoio dos leitores. Sugerir a leitura.
# Ideia partilhada por Andreia Azevedo Moreira @ 19:00 0 Outras ideias
segunda-feira, 21 de maio de 2012
REENCONTROS
Há pessoas com olhos doces, dos
que (me) falam, a quem é sempre bom regressar. Habitar-me-ão até ao dia último. Revê-las sabe à saudade que
não tinha a noção de ser desmedida. Não há virtualidade que supere estar
com aqueles que um dia fizemos nossos. Não há calor maior que o dos
sorrisos, do(s) olhar(es), do toque. É nessa vida que me encontro: Quando existo em abraços
e beijos e digo “Gosto (muito) de ti.” sem palavras.
Aproveito o post para um Post scriptum: PARABÉNS GUIsado! Aquele abraço. Móchiiiiiiiiiiilllaaaaaaaaaaaaa! :)
# Ideia partilhada por Andreia Azevedo Moreira @ 07:00 0 Outras ideias
quarta-feira, 16 de maio de 2012
«VER»
Dei-lhe a ler o meu último
trabalho que um dia, em breve, partilharei convosco. 25000 Caracteres de
suplício, para alguém em quem o prazer da leitura não habita. (Falta de hábito?)
Olhou-me com o ar desconsolado de quem não sabe como transmitir o que guarda
debaixo da língua. Engoli em seco. Com trejeitos de pesar (Na iminência de proferir
«Coitada…», todavia, refreando-se.) dirigiu-se-me solene, qual prenúncio de
morte:
- O feedback que tenho para te dar é que escreves à escritor.
Eis uma das coisas mais bonitas
que me disse até hoje e irrefutável prova de Amor. Sei o quanto o enfada a
Literatura. (Ó p'ra mim toda armadona em boa a dizer que o que escrevi se enquadra nessa arte maior.)
(Obrigada pelo apoio. É
importante.)
P.S. Trata-se de um dos textos
que mais me orgulha. Burilei-o à exaustão. Ao ponto de me cansar dele e de o
considerar a mais banal narrativa. Nunca outrora me dediquei tanto ao corte, à
escolha da(s) palavra(s) justa(s). Dois meses para 14 páginas. RIP. Agora é de
quem o Ler.
# Ideia partilhada por Andreia Azevedo Moreira @ 19:30 0 Outras ideias
terça-feira, 8 de maio de 2012
MELANCÓMICO – O Livro – Na GERAÇÃO C
Há uns anos perdi-me, enquanto vagueava por
território imaginário. Fui dar a um bairro catita, daqueles à antiga, em que as
pessoas se conhecem e se preocupam umas com as outras. Nesse havia um quiosque
tradicional, um gato preto para nos testar a sorte e um homem, com alma de
poeta e um saco de plástico em cada mão, a dedicar-se à filosofia (de bairro) e
aos aforismos (de pastelaria). Falo do Melancómico, personagem híbrida amante
da melancolia e da comicidade improvável, criado por Nuno Costa Santos (1974)
guionista e escritor.
Na mão esquerda “MELANCÓMICO – O livro.” Releio-o
para vos falar dele. Reencontro o Márcio; a Dona Bina; a cidade em que as
preocupações existenciais me chegam na conta do supermercado perto da água e do
fiambre e o humor se vende em gramas com IVA incluído.
Trata-se de colectânea de frases para saborear.
Nada de as lerem sôfregos, sem as mastigarem. Poderão afigurar-se-vos leves,
porque espirituosas, todavia, nelas encontram os grandes temas de uma vida
vivida: o Amor, a Morte, a Amizade, Deus, as Tecnologias, a Paternidade, os Antidepressivos
e a Chamuça. Destaco apenas uma delas para não estragar o prazer de descobrirem
as restantes. «DONA BINA SAI-SE COM ESTA ANTES DE PEDIR O CAFÉ COM ADOÇANTE – O
pior palco é aquele em que as pessoas julgam que não estão a representar. (Pág.54)»
No final do volume aguarda-vos entrevista com o bom
frasista. «Estamos com muito medo do silêncio e de ter experiências privadas
que depois não são contadas. Temos de contar tudo. E eu reivindico esse regresso
ao secretismo.» Subscrevo-lhe este e outros pensamentos.
Visitem-lhe o blogue entretanto extinto e o sítio onde encontram a série que passou na televisão,
que transportava para a pequena tela o universo da melancomia. Estou certa que não
darão por perdido esse tempo.
110 BPM – Um
livrinho para ter na estante ao alcance da mão, tão vital para os amantes de
aforismos, como a bomba para o(s) asmático(s). Se visitarem a Feira do Livro
encontrá-lo-ão (e ao Caderno) no Pavilhão da Europress (33B).
P.S. Aproveitem
e procurem também “No meu peito não cabem pássaros” de Nuno Camarneiro, o qual
sugerirei dentro de dias. Deixo, ainda, a pista para “O teu rosto será o
último” de João Ricardo Pedro, que fez da adversidade - Ficou desempregado. –
oportunidade - Escreveu este livro considerado por muitos um magnífico e
auspicioso primeiro Romance. –Habitam ambos a Praça Leya.
# Ideia partilhada por Andreia Azevedo Moreira @ 18:30 0 Outras ideias
quarta-feira, 2 de maio de 2012
Cada um faz o melhor que pode. - Declaração de intenções III
Não
sou uma palavra, uma frase, uma mania. Não sou um trejeito, um tom de voz, uma
maneira de escrever. Não sou o meu sentido de humor, a(s) minha(s) música(s)
preferida(s), as causas que abraço. Não sou o Amor que sinto, os meus filhos,
nem os meus amigos. Não sou a única aluna, leitora, não sonho sozinha. Não sou
o meu animal preferido, a cor que mais me diz, o(s) livro(s) da minha vida. Não
sou o trabalho diário, a forma de me rir, ou o andar desajeitado. Não sou as
minhas crenças, ou indignações. Não sou as peças de teatro que me arrebatam, ou
os filmes que assisto na tela maior. Não sou a vontade. Não sou o que vivi, as paixões, os desgostos. Não sou o meu mau-génio, as minhas
inseguranças, as minhas dores. Não sou o meu doentio ciúme. Não sou o medo de não ser,
do escuro, de perder o indefinível. Não sou a minha desmedida fé, tão pouco a massacrante
desconfiança. Não sou o(s) desejo(s) que me consome(m). Não sou o que me (de)move. Não sou o meu olho direito torto, ou as unhas curtas, sem cor. Não sou a paranóia, nem o bom-senso, ou as minhas decisões.
Tudo o que, isoladamente, não sou, o sou inteira.
Andreia Azevedo Moreira (Lisboa, 1978) licenciou-se em Engenharia Florestal e não exerce. Não estudou letras mas dedica-se-lhes com paixão. Escreveu os argumentos e os guiões das curtas-metragens «Espelho meu» (2018) e «A Escritora» (2019) em parceria com Hugo Pinto, o realizador e o argumento/guião da curta-metragem «À vida» (48HFP Lisboa) realizado por André Costa. Colabora com o projecto online fotografarpalavras idealizado por Paulo Kellerman. No papel: «Os cães ladram» (Colectânea «O país invisível», C.E. Mário Cláudio, 2016); «Pode um corpo morto» (Colecção Crateras, Nova Mymosa, 2019); «Mar Fechado» (Grotta n.º4, 2019/2020); «As paredes em volta» (Colecção Crateras, Nova Mymosa, 2020); «A vinte e quatro minutos da eternidade» (Ed. Minimalista, Antologia de contos, 2020); «Abel» (Ed. Minimalista, Contos Minimalistas, 2021), Augustine e os maus sentimentos (Nova Mymosa, 2021), Depois do abismo o canto dos pássaros (Nova Mymosa, 2022), Em português escrevo com A (Edição em papel de 06-04-2023, Jornal de Leiria), Pesar o adeus (Nova Mymosa, 2024). Liberdade e gratidão são verbos. Pearl Jam, banda sonora.