sábado, 31 de dezembro de 2011

 

E assim foi em 2011

Ah pois que vou fazer a suma do ano, ah pois que vou, sim senhora. E não se enganem, vão ser mesmo muitos caracteres. E, pior que tudo, sem revisão. Bebi café. Não tenho sono. O melhor é porem a mantinha nas pernas que está frio (Estou com uma agora mesmo, embora me mantenha, é claro, muito sexy toda nua por baixo da mesma. Meias anti-deslizantes, pijama com um burrico de ar esgrouviado e olheiras inenarráveis? Essa agora. Nuinha. Juro.) E pronto, sei bem que é aqui que vos perco.

Há meses que vos não redijo um testamento e tenho, confesso, saudades. Há outras coisas das quais as sinto. Desmedidas. Muitos me olharão de esguelha se disser da falta imensa que me faz a liberdade (de movimentos) de outrora. Era o tempo em que podia ser espontânea e dizer “SIM!”, a tudo, sem preocupações de horas, ou responsabilidades. Bastava o impulso, um telefonema a avisar e toda eu era iniciativas e vivências. Agora não é assim. Há que fazer escolhas. Vou a isto, àquilo não. Vivo isto, aquilo é impensável. Ora, atenção que não penso que seja mau. Apenas diferente. Necessitei de proceder a um reajuste interior. Talvez o maior que alguma vez me sucederá. Andei em pânico nos primeiros cinco meses do ano. «Ah que me perco!» «Ah que não sei quem sou!» «Ah que a euzinha que era faleceu!» «Ah que não me reconheço!» «Ah que não sei fazer isto!» «Ah que tenho uma centrifugação a decorrer na mona!» «Ah!» «Ó!» «U» «Sabes que começou no A? A A A» «Todos a bordo! Todos a bordo! Do comboio… Dos dinossauros.» Mas por que carga de água é que já andas a ver horas de Canal Panda, Deia Meia, se o bichinho passa 22h por dia a dormir? Vai tomar banho que te sentes melhor. E assim era. A aguinha acalmava-me e lá principiava a crer, que havia vida depois da(s) mamada(s). – Já vos contei do ataque de riso que tive aos 18, na cama, a estudar psicologia, derivado ao texto ser mamadas para aqui, mamadas para ali? Pois. – Demorei tempo a perceber que não era o meu fim. E outro tanto a conseguir acalmar-me. (A culpa é da obsessão com a morte, que luto por arredar.) Eis que se me deu A epifania (Fica sempre bem falar em epifanias.): Deia queridinha tu hás-de ser capaz de fazer tudo de novo. Levará tempo. Preocupa-te, por ora, em aproveitar, esta fase bonita da vida. Sim, andas pegajosa e desgrenhada. Sim, não consegues tomar o pequeno almoço sem te levantares três vezes e engolires o pão à pressa. Sim, não consegues fazer contas de cabeça, ou dizer duas frases com nexo de seguida. Sim, nem para ires ao Pingo Doce és autónoma. Mas tens mais uma pessoa na tua vida para amares. Para ajudares a caminhar no mundo e que te pode devolvê-lo sob outra(s) perspectiva(s). Inspirei. Expirei. Percebi que enquanto andasse a esbracejar só me cansaria. Não seria a Deia do antigamente. Bloqueada. Não seria boa companhia para o meu filho. Zangada. PAM. Limita-te a viver, gaja, que tudo se compõe. Usa lá em ti os clichés que proferes, quando consolas os outros. Cura-te, pá. Tive muitas destas conversas dentro. Continuo a tê-las. Há muita ilusão à mistura. Álibis a que recorro para justificar a preguiça. O que não faço? A mim o devo.

Implorei à Bzuu. «Não me deixes “morrer”.» (Ah o dramatismo não me abandonou. Querias…) Convida-me para fazer cenas. Não terei iniciativa por uns tempos. Ainda que te dê muitas negas. Não desistas! Convida-me! Assim o fez. Estreei-me no pós-parto a ver o caveman LFB. Tinham passado 22 dias do dia inolvidável. (Orgulhosa do “meu” menino. Tão bom. Ri-me muito. Fiquei feliz por saber que estava ali a assistir ao que muito o realiza.) Não mais parámos. Gift, Deolinda, Dona Maria, São Luiz, Para acabar de vez com a leitura, Cornucópia, Teatro Aberto, Monumental, Oeiras Parque, Residence (que grande perda), hambergas gordurosas, bifes com molhanga, Artistas Unidos, King, LA e HardRock Café, trocas de livros, RAP e ABB, Optimus Alive (Ajuda-me Bzuu, vê na tua agenda que eu não apontei!) OBRIGADA BZUU. OBRIGADA.

Apaziguei-me.

Faço o melhor que posso. Quando posso. Reaprendo a ver as coisas. Enchem-me de alegria o olhar risonho do T., as suas gargalhadas, as mãos inquisidoras e incansáveis, as perninhas que já o levam onde ele quer, a curiosidade com que encara o que o rodeia, o cheiro que me não canso de inspirar, o som da voz, o ritmo a que dobra os joelhos quando dança desengonçado, a simplicidade do que o diverte, ele gostar de me ouvir cantar, quando o faço pior que as galinhas, o Amor imenso que lhe tenho e que cresce a cada dia. Tudo o resto se torna pequeno. As angústias, a consciência das concessões, o medo? Num saquinho para levar para o lixo quando sair amanhã.

Outros tópicos:

a) Voltei às Aulas da Primavera, alento maior. Aprender. O que me move.
b) Assumi-me CONTRA o Acordo Ortográfico, depois de meses no limbo. Obrigada Venâncio pelo esclarecedor artigo.
c) Fui a um dos dias do Alive completamente sozinha e senti-me bem. Experiência bué radical sendo tão acanhada.
d) Constatei que tenho quase a certeza que não gosto da escrita do Borges e que por isso não mereço o ar que respiro. Alguém me salve desta insânia literária.
e) Ensaios de Cortazar e Sebald? Só quando for mais crescida.
f) Perdi o medo de expor o que faço. Concorri ao Conteconnosco com ESTE texto. Pedinchei votos sem pudor.
g) Levámos o T. a ver o Dó ré mi perlimpimpim: caladinho, atento, encantado com a penumbra que o envolvia na infantil encenação. Renovou-se-me a alma.

(De facto, isto das alíneas decorre do café estar a bazar do meu sistema nervoso, pelo que, a soneira que já vos assiste há largos minutos, me começa a derrotar.)

h) As ESCRELEITURAS na Geração-C continuam o que me faz muito feliz.

i) Li poucos livros. Pouco escrevi. Inúmeras ideias pairam no caderninho verde à minha espera. Irei ter com essas, estou certa. Não culpo outrem, que não eu própria, pela latência. Permito-me a incapacidade de agir. Perdoo-me a inércia. Tenho direito a falhar(-me). Os livros de 2011:

i.Netherland – Joseph O’Neill
ii.O Bom Inverno – João Tordo
iii. Um teatro às escuras – Pedro Tamen
iv. As novas cartas portuguesas – Maria Teresa Horta, Maria Isabel Barreno, Maria Velho da Costa
v. A questão Finkler – Howard Jacobson
vi.O coração das Trevas – Joseph Conrad
vii. Volta ao dia em 80 mundos – Julio Cortazar (Ainda não o consegui acabar…)
viii. Por este mundo acima – Patrícia Reis
ix. Jerusalém – Gonçalo M. Tavares
x. Ficções – Jorge Luis Borges
xi. Melancómico – Nuno Costa Santos
xii. A noite das mulheres cantoras – Lídia Jorge – Leitura em andamento.

j) Viajei. Boavista – Cabo Verde.

k) Pearl Jam Twenty – Weeeeeeeeeeeeeeeeeeeee

l) Conheci o pior de mim. Combate aguerrido àquela em que me não quero transformar. A dita cuja é tramada. Sempre a vir à superfície. Não há pachorra.

                          i. Começo, todavia, finalmente (Porra!), a aceitar-me.

m) O pensamento neste momento está prestes a entrar em Stand-By.

Até para o ano! 2012, cá te espero: mangas da alma arregaçadas*.
*Disse-o primeiro carago**! Sou Maria-ninguém, mas também tenho ideiazinhas está bem? Dasse.

**Já tem link para quem teve dúvidas e teve de ir à procura... Um bem haja.

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sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

 
Com ele aprendi a sentar-me no chão, sem medo das manchas que se me atirariam à roupa. Molhei calças sem me importar. Olhei incrédula para as mãos, enquanto as enterrava na areia. Permiti-me unhas encardidas de terra e de relva. Dei festas a cães que não conheço e não me lembrei de ter de as lavar. Observei-o enquanto aferia a rugosidade do alcatrão e coloquei a minha mão bem perto da sua. Preto. Quente do sol. Cheirava a pneus e a pastilhas elásticas. Tantas texturas se me revelam agora. Reaprendo um olhar puro, sobre todas as coisas. Para quê “Não te sujes”, “Põe-te direito”? Regras que não entendo. Guardo-as na gaveta dos classificados. Pouco me interessam. Enfrento o escuro por ele e é com ele que avanço estóica na treva. Que a não tema tanto. Fecho a porta ao discernimento. É tempo de sentir.

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segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

 

(MICRO)CONTO DE TERROR

Havia um homem que endoidecia com as mentiras que lhe diziam.

(Molhava o bico.)

Outro penava louco com o que cria que lhe sussurravam, contudo, nada era transmitido deveras.

(Bico seco, seco.)

Aqueloutro não suspirava, nem agia.

(Bico aberto.)

E um havia que acusava os outros de permanecerem quietos, como condenava os restantes se, se revelavam ousados. Persistia em fazer o que não queria, dizer o que não sentia, pensar o que jamais tentaria.

(Bico amargo.)

Todos eram tristes.

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sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

 

FELIZ NATAL NOVO!

Tenho saudades do Natal. Da casa no Bairro Belsol, Foros de Amora (disse sempre "da"). Havia uma lareira acesa. O cheiro da lenha a queimar. Havia risos. Um pai, uma mãe. Havia os primos que são os meus irmãos mais velhos. E um Buddy saltitante a roer papéis de embrulho. Havia gatos meigos, a passar-se pelas pernas. Era o tempo em que se ouvia o meu tio João a repetir tudo duas vezes. A falar alto. A rir-se maroto. «Xujana xe xair xaia xó xou xó xeu xerafim xá xouja» A minha tia Manuela presente. O olhar cá e não lá, tão longe do que ela foi. Vazio. Sinto muita falta dela. Havia tanta coisa que já se não pode viver. Pretérito. O Natal era(-me) aquilo. Foram muitos anos a vivê-lo. Outros tantos a perdê-lo. Este ano recupero-o e dele faço um novinho em folha para o meu filho, que já dá passos sem mim. Alegria maior. O Natal? São as pessoas que nós amamos. Perto. No pensamento, ou no abraço.

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terça-feira, 20 de dezembro de 2011

 

INSTANTÂNEOS XV

- Por aqui?
- Pois. Moro por estas bandas há 20 anos. E tu?
- Há nove. A Helena?
- Está bem. Obrigado. E a Olímpia?
- Também.
- Estás com bom aspecto! – Voz tremente.
- Obrigado. Tu também. – Olhos a fugir-lhe para o rio.
- Adeus então. Gostei de te ver!
- Adeus. – Calou a saudade e o espanto. O frio que o trepou de repente. Como? O impermeável fechado.

Prosseguiram, lado a lado, com sorrisos bonitos, que desenhavam vazios do passado comum. Pareceu-me vê-los de mão dada, quando eram já 132 os metros que os apartavam.

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segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

 

PRIVATE, PRIVATE, PRIVATE que mais PRIVATE não pode haver

Coitado. Ainda agora mesmo (tipo há 2 ou 3 segundos) se livrou de uma, já está a comer com outra.

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sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

 

POR ESTE MUNDO ACIMA - PATRÍCIA REIS



“Por este mundo acima” (Dom Quixote) de Patrícia Reis (1970) apresentou-ma como uma das minhas escritoras de ora em diante. Se me concedessem somente uma palavra, para definir este colosso de Romance elegeria: ESPERANÇA. Quando me desconsolo com o mundo e com a Humanidade penso, amiúde, que não há remédio. Somos incapazes de retroceder na insânia e caminhamos para a extinção às nossas próprias mãos. Arrastaremos connosco as coisas belas que nos precederam. Desmesurada injustiça. Nesses momentos afigura-se-me como solução plausível uma catástrofe de contornos globais, que permita a Deus, à Natureza, ou ao Homem, recomeçar. (Tentar) Fazer melhor.

Eis a premissa pressentida nesta narrativa. Um acidente indefinido devastou Lisboa. - O planeta? - Eduardo sobrevive. Fora editor conceituado e sobranceiro. Homem das letras e pela cultura. Sofia, Lourenço e Jaime os seus amigos. Três existências fortíssimas a dar-nos nós na garganta. Quatro mosqueteiros antes do “acidente”. Depois o caos, a treva e Eduardo abandonado, desprovido das referências de outrora. Todavia, a sobrevivência é bicho traiçoeiro que se impõe, ainda que a desistência menos árdua e dolorosa. Aquele homem continua vivendo. Inicialmente imitando-se no pré-desastre. Depois, concebendo a impossibilidade de persistir imutável, apre(e)ndendo nova forma de ser, de estar, de se dar aos outros.

Encontra Pedro. Menino amadurecido à força, que vira morrer sua mãe e que se lança a Eduardo, bóia e náufrago em simultâneo. Crescerão juntos. Pedro faz-se homem, Eduardo também. Há no primeiro a intuição crua e certeira que em si coexistem o bem e o mal, sabendo-se capaz de ambos com semelhante aptidão. Por respeito ao amigo que o adoptou e cria, oculta-lhe a tendência para a maldade. O tesouro de ambos é a biblioteca da avó de Eduardo, a qual enriquecem através de expedições, por entre os destroços, para encontrar novos livros e onde este descortina muitas das respostas a dar ao rapaz em construção.

Mais sobreviventes se lhes juntam. Organizam-se. São solidários. Eduardo renascido é pessoa inspiradora para os demais, pelo seu sentido de ética, pela escolha consciente das melhores acções. Quando lhe pareceu que era o fim e nada haveria a fazer, senão aguardar a morte, reinventou-se. Recuperou momentos e afazeres. - Como analisar uma obra-prima ignorada há anos na escrivaninha. - Aprendeu a ver na escuridão.

Termino com a mãe de Pedro (Pág.195): “Procura alguém que saiba mais do que tu. Não te limites a receber. Aprende a dar. A reciprocidade é essencial.”

195 BPM – Um lema de vida. Cura a desesperança e ajuda a crer que mesmo na mais absoluta devastação, podemos intuir trilho.

Publicação original AQUI.

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terça-feira, 13 de dezembro de 2011

 

Ano Primeiro.

tive visceral certeza que te reconheceria.
incondicionalmente.
ainda ignara quanto à matéria, ânimo ou
género que te compunham.
ouvi-te. pulsavas. bastou para saber-te. definitivo.

(m)eu.
almejo que nunca o sejas.
amo-Te.
como és.
assim mesmo.
como és.
nunca (me) ouças o contrário.

(posso perder-me.)

amo-Te.

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